quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MENGEM DO PR P CESAR

- Eleição e Evangelização Uma da principais objeções feitas à pregação da doutrina da eleição nas igrejas onde tal pregação não é comum é: como fica a questão da evangelização? Será que ela não acaba desencorajando os cristãos? Será necessária a pregação do evangelho? Os empreendimentos evangelísticos devem ser feitos mesmo, já que somente os eleitos serão salvos? Se Deus já escolheu, será que devemos fazer missões e nos esforçarmos tanto? Estas e outras perguntas são muito importantes, pois, sem a devida compreensão daquilo que a Escritura ensina sobre a doutrina da eleição, e sua relação com a evangelização, podemos achar que qualquer esforço evangelístico é contraditório. Para muitos, é muito difícil unir ambas as coisas. Mas, será que precisa ser assim? Será que não podemos pensar em eleição e evangelização conjuntamente? Em 2 Timóteo 2.10, lemos: “Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória”. Quando o apóstolo Paulo escreveu sua segunda carta a Timóteo, ele o fez para encorajá-lo no combate à fé e ao sofrimento por Cristo. Certamente, pelo tom de Paulo, Timóteo estava enfrentando muitos problemas em seu ministério e, como acontece de vez em quando aos pastores, precisava receber “uma injeção de ânimo” para levar adiante o seu chamado. Sendo Paulo uma espécie de tutor de Timóteo, acostumado às lutas por causa da sua pregação do evangelho – ele mesmo estava algemado (v. 10) –, encorajou-o a não olhar para as suas lutas e dores como motivações para a covardia e timidez ministeriais. Pelo contrário, Timóteo necessitava ter seu dom reavivado (2 Tm 1.6) para desempenhar a obra do evangelho, e as lutas seriam parte da grande obra de aperfeiçoamento ministerial pela qual Timóteo necessitava passar. Por isso o convite para participar com ele dos sofrimentos, a favor do evangelho (2 Tm 1.8). No texto que lemos, Paulo apresentou um dos seus vários argumentos para que Timóteo desempenhasse bem seu ministério. Não importariam as lutas; não importaria de onde viriam as lutas; não importaria a própria intensidade das lutas; não importaria, se necessário, sofrer na própria carne; nada mais importaria, se Timóteo pudesse vislumbrar os muitos que seriam salvos mediante a operação do Espírito através do seu ministério. Incrivelmente, seu argumento estava relacionado com aquilo que, normalmente, não conseguimos fazer qualquer relação: eleição e evangelização. Pasmem, mas a eleição, para Paulo, era uma motivação para a evangelização! O fato de Paulo ter no seu curriculum ministerial – 2 Co 11.23-27 – muitos trabalhos, muitas fadigas, muitas vigílias, muitas prisões, muitos açoites, muitos perigos de morte, três fustigações com varas, um apedrejamento, três naufrágios, um dia na voragem do mar, muitas jornadas, perigos nos rios, perigos na cidade, no deserto, no mar, muitas ameaças causadas pelos salteadores, pelos judeus, pelos gentios, pelos falsos irmãos, muita fome, sede, frio e nudez, não era porque Paulo gostasse de viver perigosamente; não era por causa de um desvio psicológico de alguém que se realizava no sofrimento; mas de alguém que amava a Deus a ponto de obedecer-lhe integralmente para que o evangelho fosse pregado e os homens fossem salvos, ainda que tivesse que sofrer para isso. Paulo disse: “tudo suporto por causa dos eleitos”. Ao que me parece, a consciência que o apóstolo tinha quanto à eleição não lhe serviu de desmotivação, pelo contrário, sua motivação veio exatamente de onde jamais imaginaríamos que pudesse vir. Este nosso texto nos orienta quanto à coisas que são bastante relevantes quando pensarmos, daqui por diante, na relação entre eleição e evangelização. Algumas coisas devem ficar claras para nós. 1. A eleição não anula a proclamação do evangelho Algumas pessoas, devido à má compreensão do conceito bíblico de eleição, pensam que para se crer na eleição é necessário anular a proclamação do evangelho. Porém, isso é totalmente estranho à Bíblia. A Bíblia informa que a proclamação do evangelho e a eleição não se excluem. Podem caminhar lado a lado. Para isso, precisamos entendê-la adequadamente. Vejam a motivação de Paulo: qual era a causa do sofrimento de Paulo de acordo com o texto? Era sua maneira de vestir-se? Era a sua cultura abundante? Eram os privilégios de sua condição social como cidadão romano? Não. A causa do sofrimento de Paulo era a proclamação de uma mensagem que, primeiro, perturbava os acomodados em seus próprios pecados e, em seguida, consolava os perturbados. O fato é que ninguém gosta de ser perturbado. Nem mesmo os contemporâneos de Paulo gostavam de ser perturbados. Eu não gosto e você também não gosta. Mas a mensagem pregada por Paulo perturbava as pessoas. Não era Paulo quem perturbava, mas sua mensagem – embora muitos dos seus contemporâneos não argumentassem contra sua mensagem, mas contra a sua pessoa. Pois uma coisa da qual não podemos fugir é a verdade de que o evangelho é confrontador. Ele perturba os acomodados e consola os perturbados. Sabemos que a fé é um dom de Deus (Ef 2.8-10), mas sabemos também que a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo (Rm 10.17). Assim, é compreensível as perguntas retóricas feitas por Paulo em Romanos 10.14,15. O resumo é: como serão salvos se a palavra não lhes for pregada? A palavra de Deus, de fato, nunca volta vazia, ela sempre cumpre os propósitos de Deus (Is 55.11), seja para a vida ou para a morte (2 Co 2.15-17). Portanto, a eleição e a pregação não se anulam, pois quem salva é o Senhor Jesus Cristo, por meio da palavra escrita e pregada. A pregação nada mais é do que meio que Deus utiliza para alcançar os seus propósitos. Enquanto o homem for homem e o mundo for mundo, esta palavra será sempre “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”. Mas, ainda assim, deve ser pregada a tempo e fora de tempo. Alguém que tenha plena consciência do seu chamado e de quem o chamou, não pode se dar ao luxo de pregar de qualquer maneira e nem “o que lhe dá na telha”. A convocação é para pregar a palavra, a tempo e fora de tempo. 2. A eleição aumenta a responsabilidade da proclamação do evangelho Ao contrário do que muitos pensam, a eleição, quando devidamente compreendida, não anula o fervor evangelístico e missionário de um cristão. Ela aumenta nossa responsabilidade. Porque amamos a Deus e ao próximo, saímos à procura dos grãos que devem ser guardados no celeiro para que nenhum deles se perca. Isto envolve muito trabalho. Se necessário, sofrer na própria carne, como no caso de Paulo. Ele tudo suportou por causa dos eleitos. Mas quem são os eleitos? Será que podemos identificá-los pessoalmente em uma caminhada pelas avenidas de um grande centro comercial? Será que podemos identificá-los nas feiras que correm a cidade todos os dias da semana? É óbvio que não! Certamente estão lá, mas o domínio desse mistério não nos pertence. Por isso Paulo escreveu: “fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co 9.22). Nossa tarefa é pregar a todos, independentemente de raça, cor, sexo, língua ou qualquer outro obstáculo para a relação entre os povos. Toda a terra precisa ouvir acerca da boa nova de Deus aos homens, que Cristo veio “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Uma pessoa, seja pastor ou não, que se nega a pregar o evangelho por causa da sua “suposta compreensão” da doutrina da eleição – para não dizer “preconceito” –, ainda não entendeu suficientemente bem o que a Escritura diz. Pois Deus, certamente, não estabeleceria duas bases que se aniquilam, que se afrontam, ou então, Deus não é Deus, pois não sabe o que faz. Mas Deus é Deus, e a relação entre eleição e evangelização é possível, pois são verdades bíblicas reveladas por Deus, portanto, não contraditórias. Nós somos contraditórios, a Bíblia jamais. Assim, ao contrário do que muitos pensam, a eleição não nos desmotiva, mas, quando devidamente compreendida, encoraja-nos ao cumprimento da nossa missão evangelística e missionária em um mundo perdido e carente da graça de Deus. Deixem-me contar uma história. Grande parte do pensamento de incompatibilidade entre a eleição e a evangelização presente hoje em nosso meio batista, foi causado por alguns cristãos batistas do século XVIII, que seriam conhecidos mais tarde como “batistas cascaduras”. O episódio na vida de William Carey, pregador batista conhecido como o “pai das missões modernas”, ilustra bem o pensamento dos cascaduras. Carey era pastor na cidade de Moulton, Inglaterra. Num encontro de pastores em Northampton, o pastor John Ryland, que presidia a reunião, solicitou uma proposta de tema para discussão naquele dia. Carey, que desde há muito estava com o coração ardendo pela obra missionária, depois de um certo silêncio dos pastores presentes à reunião, propôs o tema “a obrigação dos cristãos de tentar difundir o evangelho entre as nações pagãs”. Ryland, ao ouvir a proposta, ficou atônito e, vociferando, disse uma das mais famosas frases no estudo de missões, conhecida bem pelos nossos Embaixadores e Mensageiras do Rei: “Jovem, sente-se. Quando Deus quiser converter os pagãos, ele o fará sem a sua ajuda ou a minha!”. A postura e as palavras de Ryland, ainda que não fosse o pensamento de todos os batistas na Inglaterra, tinha como pressuposto, exatamente, a inadequada compreensão da doutrina da eleição, o outro lado da moeda em relação ao nosso. Ryland, como outros batistas de sua época, não deram a devida atenção ao escopo total da Escritura. Por isso “pecaram” na interpretação da Bíblia e na sua teologia de missões. Naquela altura, os batistas ingleses assinavam a Segunda Confissão Londrina, de 1689, que era totalmente a favor da doutrina da eleição. O próprio Carey, conforme sua biografia, foi um homem de fortes convicções sobre a doutrina da eleição, mas nem por isso deixou de pregar aos indianos a palavra de Deus com todo o ardor de sua alma, a ponto de ser reconhecido mundialmente como o “pai das missões modernas”. Como se pode notar, a doutrina da eleição não era estranha, como muitos pensam, aos batistas – alguns chegam a confundir, pensando que “isto é coisa de presbiteriano”. Pode até ser que seja estranho hoje, mas nem sempre foi assim. Os batistas brasileiros – da Convenção Batista Brasileira – são herdeiros dos batistas americanos, que foram evangelizados pelos batistas ingleses. O fato de não darmos a devida atenção à doutrina da eleição em nossos círculos batistas hoje, não faz com que ela deixe de ser uma doutrina batista. Ninguém é menos batista por crer na doutrina da eleição. Durante muito tempo nós, batistas, fomos conhecidos como “o povo do livro”. Cremos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, ou seja, tudo o que devemos crer e praticar deve ser norteado pela Bíblia e nada mais. Entretanto, quando chegamos à doutrina da eleição tomamos um caminho diferente e filosofamos. Assim, desejo concluir este ponto e afirmar que, quando compreendida adequadamente, a doutrina da eleição não anula e nem diminui a responsabilidade e o ardor pela salvação dos perdidos. Ao contrário, ela nos encoraja a irmos até ao fim das nossas forças para vermos os homens se rendendo a Cristo. 3. A eleição não anula o que Cristo realizou Outra confusão que muitos fazem é o da relação entre a eleição e a expiação – a obra de Cristo. Chegam a afirmar que se a eleição é verdade, então Cristo não precisava morrer. Mas, mais uma vez, há um grande equívoco. Os homens não são salvos pela eleição, mas por Cristo e sua obra. O fato de Deus ter tomado suas decisões na eternidade não anula o evento histórico e a necessidade da encarnação e morte de Jesus. Na verdade, sua morte, como a eleição, deu-se na eternidade – mas ocupou um espaço na história –, conforme podemos ler em Apocalipse 13.8: “... o cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Na verdade, aspectos da justiça divina precisavam ser cumpridos para que o homem pudesse ser salvo. Deus jamais acharia alguém que pudesse, dentre as criaturas, atender suas exigências. Por isso, Deus enviou seu Filho para ser o perfeito substituto dos pecadores. Ele deveria verter seu sangue para remir-nos de nossos pecados e cancelar o “escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças”, na cruz (Cl 2.14). O Novo Testamento ensina que fora de Jesus Cristo não há salvação. Ele é o único que reconcilia o homem com Deus, pois atendeu suas exigências. A eleição, como muitos pensam, não é um fim em si mesma, mas Jesus é. Ele é o único que livra do pecado, e mais nada ou ninguém. Portanto, a boa nova a ser pregada pela igreja deve ser Jesus Cristo. Nós devemos pregar a “Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). 4. A eleição é a certeza de nossa perseverança e da glória eterna Escrevendo aos filipenses, Paulo expôs sua convicção àqueles irmãos da seguinte maneira: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (1.6). Em outras partes do Novo Testamento lemos que Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas; o primeiro e o derradeiro; o alfa e o omega; o autor e o consumador da nossa fé. O interesse de Deus ao nos conceder a salvação não era fazê-lo de qualquer maneira; ele não nos salvou para sermos deixados por conta do destino que cada um pudesse traçar para si; ele nos resgatou para o reino do Filho do seu amor. Ele nos salvou para herdarmos a glória eterna ao seu lado. Aqui está implícito o princípio verdadeiro – mas que, também deve ser compreendido de maneira devida – de que “uma vez salvo, salvo para sempre”. Este é um princípio que eu defendo e tenho pregado sempre que sou convidado a fazê-lo ou sinto-me impelido a fazê-lo. Afirmo que deve ser compreendido devidamente porque não são poucos os que pensam que tendo um dia feito um gesto de aquiescência a alguma pregação, mas não andaram na verdade, antes, voltaram aos seus próprios pecados – como o cachorro ao seu vômito e a porca lavada à lama – que, por isso, serão salvos. Loucos são os que assim pensam. Ninguém é salvo por um gesto, mas por mudança do coração. Não digo com isso que se um dia você fez um gesto você não é salvo. O que digo é que você não foi salvo pelo gesto feito, mas pela fé em Cristo. Por outro lado, não digo que se você não fez um gesto você não está salvo. O que digo é que você foi salvo por crer em Cristo. Quantos, um dia, gesticularam mas não creram. Quantos, um dia, não gesticularam, mas creram. O que realmente contará no dia do juízo? O homem é salvo pela fé em Cristo. Portanto, não confundamos gestos com salvação. A salvação é obediência a Cristo traduzida em gestos no dia-a-dia. Tendo esclarecido isto, afirmo novamente que “uma vez salvo, salvo para sempre”. Não pelo gesto, mas pela obediência a Cristo. Preciso encerrar a pregação. Mas não posso encerrá-la sem antes lembrá-los que, ao contrário do que muitos pensam, a eleição não anula a proclamação do evangelho; não anula ou desencoraja a responsabilidade cristã; não anula a obra de Cristo. Pelo contrário, a eleição nos motiva a caminharmos não apenas a segunda, a terceira, a quarta ou a quinta milhas para vermos os homens rendendo-se a Cristo. Mesmo que tenhamos que ter as nossas peles feridas, mesmo que soframos qualquer tipo de perseguição, nada nos tirará do rumo certo que trará glória a Deus. A eleição, quando devidamente compreendida, não traz desânimo. Deus não nos daria algo para que desanimados ficássemos. Ela aumenta a nossa responsabilidade; aumenta o dever que temos, pessoalmente, de anunciar o evangelho aos familiares e parentes, aos colegas de repartição e de sala de aula, aos amigos e aos vizinhos. Ela não nos permite parar de orar pelos pecadores, como, volta e meia alguns fazem, pelo contrário, nos leva a orar ainda mais, pois se Deus não lhes abrir os olhos, se Deus não fizer cair o véu, quem se salvará? Ela aumenta o nosso interesse pela salvação dos nossos queridos. Ela nos leva a glorificar um Deus que realizou uma perfeita obra para a salvação de todo aquele que nele crer; de um Deus que não mediu esforços ao mandar o seu Filho para subir o Gólgota, à cruz, para verter seu sangue por nós, pecadores. Ela nos encoraja a perseverarmos, haja o que houver, venha o que vier, na vereda da justiça, que um dia Deus preparou para que andássemos nelas. Como não glorificar a Deus por tudo o que fez? Como não lhe ser grato? Como não amá-lo? “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.33-36).

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