quinta-feira, 7 de junho de 2012

BELA HISTORIA

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Para R10, Jobson, Adriano e cia: a história do carioca que jogou até a morte por amor à camisa


qua, 06/06/12
por bernardo.pombo |
categoria Curiosidades

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Em tempos de Ronaldinhos, Adrianos, Jobsons e companhia, o Pombo sem asa conta uma história belíssima de amor à camisa extraída do fantástico livro ‘O Negro no Futebol Brasileiro’, de Mário Filho. Trata-se dos últimos momentos de Monteiro, jogador do extinto Andaraí, em 1918. Vale a pena.
“O Andaraí perdendo de longe, Monteiro fazendo mais força, molhando a camisa. Tinha que acabar como acabou, tuberculoso. E jogando até o fim. Enquanto se aguentou não deixou de ir ao clube. O dinheiro dele mal chegava para os remédios. Muitas vezes, sem um tostão para o bonde, ia para casa a pé, devagar, para não se cansar.
Não dormia bem. Estava pegando no sono, a tosse vinha, sacudia de um lado para o outro. E os dias e noites se passavam assim, de casa para a fábrica, da fábrica para o clube, do clube para casa, para a cama. Até que chegava o domingo. Monteiro aparecia no Andaraí, vestia-se de jogador de futebol, entrava em campo. Quando acabava o primeiro tempo caía em cima de um banco no vestiário, parecia que ia morrer ali mesmo.
Todo mundo pedindo para ele ir para casa, se tratar direito. Mas como ele podia se tratar direito, no meio do campeonato, o Andaraí com um jogo atrás do outro? O Andaraí precisava dele. Quando ele deixava de jogar, o time perdia. Os jogadores corriam em campo sem entusiasmo. Ele tinha que jogar, nem que fosse de goleiro. Para ele, doente, fraco, o gol é que estava bem. Ia para debaixo dos três paus. O Andaraí começava a perder, ele não aguentava. Chamava outro para o gol, tomava um lugar no ataque.
O doutor Rocha Braga se encontrava com os jogadores no botequim, dava notícias de Monteiro. Não havia esperança. Monteiro ia morrer naqueles dias. Talvez não durasse até o domingo do jogo com o Vila Isabel. Chegava o domingo, Monteiro se arrastando. Os jogadores estavam sempre mudando de roupa quando Monteiro entrava no vestiário. Nenhum tinha coragem de lhe dizer nada, ficavam era de pé, olhando para ele, para o peito nu de Monteiro, pele em cima de osso, as costelas aparecendo.
Foi como médico que o doutor Rocha Braga quis proibir Monteiro de jogar. Monteiro ouvia o doutor, continuava a se vestir. O doutor calava a boca e tratava de ajudar Monteiro a calçar as chuteiras. Monteiro ia morrer, aquela era a última vontade. E Monteiro jogou assim um match contra o Vila Isabel. O doutor Rocha Braga na grande, chorando, muito jogador do Andaraí chorando, também, dentro de campo, enquanto corriam atrás da bola. E Monteiro durando, nada de morrer. Monteiro jogava contra o Vila, passava quinze dias na cama, o outro jogo contra o Vila era logo a seguir.
Estava pior, já nem podia assinar o nome direito. Pegava a caneta, a mão tremia. Quando acabou o jogo contra o América (6 de outubro de 1918), ele foi carregado para o vestiário, botando sangue pela boca. Não se levantou mais da cama”.

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