Estádio Caio Martins teve
38 presos na ditadura militar
Estudo da Comissão da
Verdade também aponta envolvimento de empresas
Rio - Pelo menos 38 pessoas foram presas durante a ditadura militar no Estádio Caio Martins, em Niterói. Além disso, foram constatados outros 21 casos no estádio do clube Ypiranga F.C., em Macaé. É o que aponta pesquisa inédita da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apresentada nesta quarta-feira no Rio. Foi verificado pela comissão que algumas empresas tiveram envolvimento nestas prisões. Entre elas, o Estaleiro Mauá, a Fábrica Nacional de Motores, o Estaleiro Ishikawajima e a Rede Ferroviária Federal.
Entre as descobertas
apresentadas está o caso de um operário que foi preso na Fábrica de Borracha da
Petrobras. O trabalhador foi obrigado a ficar sentado durante 36 horas seguidas
no pátio da empresa sem direito a comida e bebida até o primeiro
interrogatório. O foco dos trabalhos era a comprovação da utilização dos
estádios para prisões e tortura em massa no período de 1964 e 1966. Foi constatado
ao menos um caso de suposto suicídio que ainda será investigado pela comissão.
O Estádio Caio Martins, em
Niterói, foi usado durante a ditadura como prisão, uma vez que as delegacias da
cidade já estavam lotadas
Foto: Banco de imagens
De um modo geral, essas
prisões atingiram, em especial, petroleiros, operários navais e marinheiros
ligados ao Partido Comunista. Os pesquisadores fizeram questão de ressaltar que
os números podem ser maiores,já que o estudo durou apenas seis meses e foi
baseado apenas no acervo dos processos de reparação apresentados por vítimas à
Secretaria de Direitos Humanos do Estado.
“Um documento encaminhado
para a CNV, de um ex-investigador, diz que ele prendeu cerca de cem pessoas no
início de abril de 1964”, contou Marcelo Jasmin, coordenador da investigação. O
trabalho foi conduzido por ele com pesquisadores da PUC-RJ. De acordo com
Jasmin, foram encontrados informes policiais sobre as prisões.
O pesquisador explicou que
esses documentos mostram que os estádios foram usados quando as delegacias de
Niterói já estavam lotadas. Ao todo, foram consultados 1.114 processos de
vítimas, nos quais foram verificados 172 casos de tortura no período entre 1964
e 1966. “A pesquisa vem provar essa violência ampla já em 1964. E também
mostrou o papel das empresas no exercício da repressão, não só no
financiamento, mas como cúmplices”, observou Rosa Cardoso, membro da CNV.
Caso do Chile é o mais
conhecido
O uso de estádios de
futebol durante as ditaduras militares latino-americanas começou no Brasil, mas
teve o ápice no Chile a partir de 11 de setembro de 1973. O Estádio Nacional,
na capital Santiago, mesmo lugar onde o Brasil conquistou o Bicampeonato
Mundial de futebol em 1962, foi transformado em centro de detenção, tortura e
assassinato de opositores, logo depois do golpe do general Augusto Pinochet.
Como diversos militantes
brasileiros pediram asilo para o Chile durante o regime militar brasileiro,
alguns deles foram localizados e acabaram sendo levados para interrogatório no
estádio chileno.
O regime de Pinochet foi
responsabilizado ao menos pela prisão e pelo desaparecimento de Wânio José de
Mattos, Túlio Quintiliano, Luiz Carlos de Almeida, Nelson Kohl e Jane Vanini.
Ao todo, os chilenos contabilizaram cerca de 40 mil vítimas, entre elas 3.225
mortos ou desaparecidos políticos até 1990, quando o país voltou a ser uma
democracia.
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